sábado, 15 de julho de 2017

Tecnopoio

Madeira Tecnopolo (MT) assemelha-se, nos nossos dias, aos socalcos madeirenses que outrora dominavam a paisagem mas que, presentemente, estão votados ao abandono, cheios de erva daninha. Ao chegar vemos um edifício degradado, sem manutenção e envolto numa cabeleira de jardins sem pente. Se existisse a mão-de-obra dedicada de outros tempos, seria um deslumbre. O MT foi inaugurado em 1996 após pressões da ACIF e da ASSICOM que reivindicavam, junto da CMF e do Governo Regional (GR), a criação de um espaço destinado à realização de feiras e congressos na RAM. O GR achou por bem expandir o espaço a outros projectos num único valley que colmataria várias lacunas, podendo servir de centro dinamizador do desenvolvimento científico e empresarial da RAM. Assim, nasce o Madeira Tecnopolo agregando o CIFEC (Centro Internacional de Feiras e Congressos), a AREAM, ao BIC/CEIM (agora com o rebranding da Renovação StartUp Madeira), a UMa, o CITMA, etc. Um valley bem estruturado e infraestruturado com novos projectos em mente que até aos árabes interessou. Parecia que era só rechear e alavancar mas perdeu-se. Ao nível das instalações, quando inauguradas, eram as melhores da Madeira e ombreavam com qualquer centro de feiras/ congressos nacional ou internacional.

O MT arrancou com um turbilhão de eventos, fruto de uma planificação a 3 anos; os dados indicam que em 1999 organizou 156 eventos, rejeitando alguns porque as montagens inviabilizavam dias de exposição. Cerca de 25 Eventos foram nacionais ou internacionais onde estiveram 2100 estrangeiros e 2200 nacionais. Foi uma área do governo em que se trabalhava em modo de empresa privada, em horário exigente mas com humor reconfortante. Por esta altura, começa a ser notada a falta de um hotel junto aos eventos que bem poderia ter sido a Escola Hoteleira (novo edifício em 1997), para continuar a crescer e a conquistar mercado com eventos internacionais cada vez mais exigentes. A incapacidade de resposta dos transportes aéreos começam a ser uma pecha, havia que pensar em charters e não carreiras regulares. Passado o doloroso momento entre a criação e a velocidade de cruzeiro, o “brinquedo” tornou-se apetecível. Surgiram os predadores do estatuto, do ordenado e das oportunidades, algo que contrasta com a actualidade, sendo difícil nomear um administrador para um notável legado de 13 milhões de euros de passivo.

Na altura do apetecível “brinquedo”, qualquer coisa justificava uma viagem, um administrador adjudicava a si mesmo, enquanto empresário, a prestar serviços para o MT, em exclusividade, com preços que retiravam competitividade. Também houve administradores competentes mas abafados por outros de poucos escrúpulos. O MT entra na fase “militar” onde a promoção internacional passa a inexistente com a ideia de que era dinheiro deitado fora. A manutenção do edifício continua a não ser atendida mas cai-se nas boas graças com charme enquanto se aniquila objectivos estudados. Os pertences do Tecnopolo são cobiçados, os equipamentos são emprestados até à sua perda por desgaste rápido ou desaparecimento. Ilustro com 2 exemplos, entre muitos. A estrutura cénica (panos e ecrã de elevadíssima qualidade, só para indoor) acaba no mar por acção do vento, no concerto do Júlio Iglésias em 2004, na Pontinha. Empresta-se o material dos stands a concorrentes que o devolvem em cada vez pior estado. Assim, o MT vai ficando sem feiras, sugado por todos, sem material e com calote. Neste momento, o MT agoniza ignorado pela tutela e esvaziado de conteúdo. Resume-se somente ao CIFEC com 2 Salas e 2 pavilhões, perdeu 8 salas e a respectiva polivalência, a grande vantagem competitiva que detinha. Alguns dos seus espaços estão alocados a instituições, tornado-se um “arrendatário” sem rendimento, por pagamentos em atraso, nem espaço, o que inviabiliza cada vez mais os eventos. Perdeu parte das instalações para o M-ITI, outro projecto que está em convulsão permanente, fruto de uma chefia conflituosa do ex-presidente do MT que utilizou o poder para beneficiar o seu projecto do coração. O MT é apetecido pela Secretaria da Economia para dar asas a mais um projecto de fachada, o alargamento do StartUp Madeira, controlado pela Secretaria das Finanças que o estrangula financeiramente, sempre com o tal “guarda-livros” sem visão.

Em 2013, o MT teve 26 eventos de origem regional, à excepção de algumas formações pequenas organizadas por empresas nacionais e destinadas a clientes regionais. O pouco que ainda se faz deve-se à competência e profissionalismo dos parcos funcionários que resistem e que durante o ano passado tiveram ordenados em atraso. Vive o resultado do acumular de erros resultantes das graves decisões das tutelas e Administrações do passado mas ninguém foi responsabilizado.



Quando tudo falta no MT, não há tutela activa, não há Administração com projecto. Para onde caminha? Estão a criar um claro historial junto da UE, suportado na lógica de aproveitamento dos fundos, fazendo dívida mas sem uma economia regional para manter e com a solução internacional sabotada. O contribuinte irá pagar a factura duas vezes, a da construção e a da dívida. Será que este projecto de milhões vai ser abandonado e transformado em albergue de organismos públicos? Só interessa à política quando quer pavonear os números dos comensais em vésperas de eleições? Será que o MT está a maturar mais uma solução única para hotel, na já tradição deste GR, aí sim com condições excepcionais para trazer de novo eventos internacionais? Valorizado em 10.000€, “oferecido”? Mais uma factura para o contribuinte?

Como factos temos o valley que migrou para a Ribeira Brava com uma só empresa privada. O próprio GR assassina o seu investimento num desprezo político imperdoável apesar de ser obra do PSD. A outrora promotora ACIF faz a ExpoMadeira num estádio por interesse de alguém a jogar com as influências. O secretário que não é da tutela usa o MT como sede das Startups e lá dentro, lugar que não é exemplo, fala em como administrar, promover e formar para uma nova economia. Ninguém obtém do GR a resposta sobre o que vai fazer do MT mas, ela é do interesse de muitos, principalmente de contribuintes e funcionários.



Diário de Notícias do Funchal
Data: 15-07-2017
Página: 28
Link: Tecnopoio
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