quarta-feira, 1 de julho de 2015

Reabilitação …dói sempre.

osto de empreendedorismo, em conjuntura sem vícios ou deturpação, com instituições que funcionem ao ritmo empresarial. Não o escolheria para desígnio. Temos que tratar da “saúde” do país para levá-lo ao empreendedorismo. O nosso mercado está a ser ocupado aceleradamente por estrangeiros com melhores condições do que nós portugueses. Poderá vingar o empreendedorismo nacional com a expansão e diversificação das áreas de negócio dos “Vistos Gold” que já se notam?
Empreendedorismo é uma palavra popular no seio da governação, uma visão de promontório com uma panorâmica vasta e livre. Pena estar projectado sobre um“exército” mutilado ou desertor (emigrado), sem capacidade para corresponder. É o resultado de se dizimar a classe média que vê na emigração a solução. Quem faz a ignição com tão altas taxas de emigração e pobreza?

70 a 80% dos portugueses querem “empreender” na emigração, uma das conclusões do estudo da Decoding Global Talent. Se nos cingirmos aos jovens, 94% consideram essa hipótese. 63% dos inquiridos responderam que o fariam em qualquer área ou profissão, mesmo não relacionada com a sua formação académica. Há poucos dias, uma profissão bem considerada mostrou que 65% dos seus formandos querem emigrar, são os médicos que nos fazem falta. Empreendedorismo ou reabilitação? Observa-se o contágio da não reabilitação aos potenciais promotores de empreendedorismo.

A palavra central para fazer “reset” é a reabilitação, os novos alicerces do país. Uma parte da população, em idade activa, não tendo prevaricado legal ou criminalmente, é colocada numa zona de ninguém por ter estado na actividade económica durante a crise que persiste. O problema é tanto mais grave porque se torna numa característica comum na sociedade. Precisamos do ponto de partida, acabar com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Deve-se permitir que o biscate e o paralelo regressem ao“contribuinte”. São muitas vezes a única solução. Portugal tem muito mais para aprender com os EUA do que com a Europa, nesta matéria. Os EUA não “expulsam” infortúnios da actividade económica. Mantêm as responsabilidades mas permitem, sem contágio, que um “player” de mercado possa produzir riqueza e pagar o mal-parado. Por aqui desejam o impossível, com a multiplicação do insucesso, o ciclo da pobreza e a multiplicação de juros sobre juros a quem nem tem emprego e acaba por emigrar. Portugal “investe” no mal-parado.

A reabilitação implica olhar para trás, avaliar as causas que evitariam a repetição dos erros e criar um plano que corresponda às necessidades. Levaria muitos “teóricos” a encarar as consequências das políticas de austeridade, apontando os reais responsáveis. Um foco sobre a máquina de triturar conhecimento, experiência e investimento.

As publicidades épicas dos parceiros do desastre, onde “é para avançar”, são uma caricatura sobre a celeridade dos processos. Empreendedorismo demagógico de TV que nada tem a ver com o mundo real ou empresarial.


Na zona da reabilitação estão os que conhecem a deturpação do sistema. Numa segunda oportunidade “limparão” pragmaticamente muitos dependurados no empreendedorismo que, só conferem despesa. São aqueles que estimam a ilusão novata de quem desconhece o sistema mas acredita em si, activa-lhes receitas. Um facto pouco popular no seio dos elementos do “risco zero”. O empreendedorismo, como o conhecemos para o comum dos mortais, nunca está conotado com a certeza. Os que se dedicam a promovê-lo são vigilantes dos negócios garantidos e seguros para uns e o empreendedorismo puro e arriscado para outros.

Intelectuais da transcrição, oradores de discurso alheio, teóricos que nos enfiam em tubos de ensaio, acabem com contabilidade cínica de saldo positivo entre a constituição de novas empresas e as que encerram. Evitam certamente os “mortos”, os “Vistos Gold”, os estrangeiros com melhores condições em Portugal do que os portugueses. Conhecem a existência dos “mortos-vivos”? Para além do investimento estrangeiro, em condições muito especiais, parte das novas empresas são de empresários falidos a lutar sob outros nomes. São aqueles que não podem “fugir” do país nem têm um subsídio de desemprego. O novato empreendedor, que vê isto, quererá entrar no ciclo?

Será este texto um delírio ficcional? Avance com calma, tubarões na costa.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-07-2015

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