sexta-feira, 1 de abril de 2016

Dormindo no Expediente

stamos no defeso eleitoral, propício a atrocidades políticas a eleitores e militantes, a tempo de serem apagadas da mente para iniciar novo encantamento. Por ora vamos descobrindo que a competência afinal era incúria, que a presunção e a soberba andaram a parir asneiras, que a uxa e o uxo, a ita e o ito, a inha e o inho se vão safando na vida ultrapassando a decência. Que a tita arranja emprego e os ex-governantes também, em interesses antagónicos. Que nada é imputável e tudo é discutível. Que imenso bordel.

Estamos na normalidade democrática, o que sempre vimos, ou tanga ou cuecas, e não num novo ciclo pois, a existir, nem os chineses aguentam e vão fechando. O tempo para o eleitor é linear e tende a colocar como avalista o actual governo regional sobre os erros do passado que não se resolvem. Insistentemente pregou calote, retirou a vida às pessoas mas não sabe devolver. A máquina está de extremos, ou verde ou obsoleta ou arrogante. Chegaremos a novas noites eleitorais onde se comentam votos, abstenção, vitórias ou derrotas mas ninguém verbaliza a cada vez maior dificuldade dos eleitores em escolher. A democracia por alguma razão entrou na era da dispersão de votos à custa dos partidos tradicionais de poder.


Em dia de petas, arranca em Espinho(s) o congresso do PSD nacional sujeito às teimosias de Pedro, o ultra-liberal factual com o provocador slogan “Social-Democracia Sempre”. Heresia! Se juntarmos a isto as sinistras inscrições de militantes que tornaram Aveiro maior do que Lisboa, concluímos que tal como Pedro moldaria a Constituição ao seu interesse, a democracia interna funciona como deus no Daesh, a legitimar. Menorizar a democracia é um erro enquanto crivo da qualidade.

Depois de alcunhar de geringonça o resultado de quem soube negociar, Pedro cria uma caranguejola para não ir embora, prefere o orgulhoso desastre, não sabe servir o PSD. Marcelo absorverá o protagonismo da direita, com uma Cristas que não convence. O momento é perfeito para ser o Presidente de todos os portugueses com um chefe do executivo de outra cor política mas, bem mais social-democrata, com o apoio de BE e PCP. A geringonça está para durar e os timings da caranguejola de Pedro, mesmo depois de muito manobrar, são um fiasco. Havendo Pedro, toda a geringonça reza em uníssono o vá de retro. Em suma, o congresso será um flop e a Madeira beneficia com o novo governo e o novo Presidente.

Por cá não estamos melhor, o PS necessita de credibilidade para além das cotoveladas, se quer ser alternativa e alternância, deve angariar e formar quadros em quantidade e qualidade no defeso, sem tiros nos pés em cima dos actos eleitorais. O CDS deve passar a ser da família madeirense e não de qualquer outra bem mais pequena, com lobbies ou interesses pessoais. Do PCP e do BE não falo, estão estáveis, algo curioso nos que têm o estigma de radicais. Os restantes facturam sempre.

Quanto a quadros, o PSD desperdiça apostando em pára-quedistas que demonstram a total deslocação política e a falta de experiência governativa e partidária. Pragmaticamente, a oposição só ganharia em se abastecer no PSD, com a natural compatibilidade ideológica. O eleitor quer os melhores, o fim dos “yesmen” e dos que rasteiram quando outros querem trabalhar, quer “panzers” com algumas rugas de expressão genuínas, cientes do momento sem privilégios. As contingências na vida de cada madeirense torna-o intolerante pois vive em equilibrismo constante e o governo ainda não chegou às suas casas, principalmente com a saúde e a promoção de emprego. Por lá só viram o terrorismo fiscal implícito nos orgulhosos resultados das desumanizadas finanças. Haverá retorno, não do imposto, do eleitor.

Estamos em transição para uma era de maior exigência, com resultados mais repartidos fruto da saturação dos eleitores que andam deveras defraudados. Teremos no futuro uma nova lição de responsabilidade governativa à esquerda, desta vez na região? Um processo similar ao do Governo da República poderá ocorrer por cá, nunca foi tão plausível mas a oposição dorme no expediente.

De supostamente rural, por ali suster o poder, o PSD passou a urbano, onde colhe menos apoios, das 7 urbes da Região Autónoma da Madeira só uma é sua. Paremos para pensar, o favorito Marcelo recolheu 46% dos votos no Funchal, com PSD e CDS juntos (nas Regionais o PSD sozinho obteve 42,29%). Não quero entrar na discussão de eleições incomparáveis, só me quero fixar na popularidade de Marcelo com PSD e CDS juntos e os votos que renderam. Quem virá capaz de ganhar a confiança do eleitorado nas autárquicas? Começo a achar que a ignição de um novo ciclo político depende mais da inteligência da oposição e dos seus azedumes.

O futuro dirá mas, o “novo” PSD-M teve o seu melhor resultado nas últimas regionais com todos os interesses expectantes a dar o benefício da dúvida. Passado um ano da eleição, a imagem pública fixou-se nos anúncios e nas iniciativas que se reformulavam. Alguém vai ter que correr, ou o governo ou os pretendentes.









A oposição regional actua na expectativa, decide “em função de”, terá que tomar as rédeas do jogo para não ser surpreendida pela realidade. O eleitor não quer mais “estágios remunerados” de quem chega impreparado e que usa o mandato para aprender em vez de produzir efeito na sociedade. Não se inventam governantes mas formam-se ao longo dos anos no seio dos partidos, em graus de exigência menores. Tudo isto é pervertido pelo fraccionamento dos partidos nas disputas internas que concretizam o desperdício de quadros por não saberem unir. Malditos egos, raios os partam, andamos sempre com as fracções da lotaria. O sucesso deve basear-se no mérito, o eleitor quer ver argumentos para consubstanciar a alternância.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-04-2016
Página: 10
Link: Dormindo no Expediente


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