sábado, 12 de agosto de 2017

RTP Madeira 1 de 2


m dois Sábados abordarei a RTP-M pela evolução da conjuntura dos últimos anos, naturalmente a abreviar mas, suficientemente informativo, e espero que fiel, para sabermos como se suicida uma estação de TV. Os nomes são acessórios mas fazem parte do imbróglio que a RTP nacional, única responsável, estranhamente permite e não resolve.

A RTP-M encerra em si própria um excelente guião para uma novela em prime time. O ambiente tórrido que se vive na estação deve-se à circulação de nomes em vez de objectivos a bem do serviço público. Ao abordarmos os problemas da estação, chegaremos então a nomes com menos subjectividade nas acusações. A permissão da conjuntura é que dá importância aos nomes. Arranquemos com umas perguntas. Porque não estão os madeirenses incondicionalmente com a sua TV? Porque houve indiferença atroz quando se insinuou o seu encerramento? Quem falhou durante todos estes anos na actualização dos meios técnicos para trazer outro entusiasmo aos funcionários? Que objectivos coloca a RTP-M aos seus funcionários? Qual a idoneidade das lideranças? Tem um desígnio ou simplesmente não há moral? Trabalham para que share? Porque é que em algo tão exposto segue a tradição tachista na região? Porque é que quanto mais formado e experiente na área mais se “emprateleira”? Há 30 anos, a RTP-M abria a emissão às 18:00, a mesma hora dos nossos dias, excelente retrato da estagnação para uma TV que já deu “Bom Dia Madeira”.

Recuemos 30 anos na RTP-M. 2ª metade da década de 80 até 1997: Armindo Abreu, o Director que inaugura as novas instalações da RTP-M, no Caminho de Santo António (1995), reforça a produção regional, onde inclui mais desporto, e aumenta o número de transmissões em directo de eventos. Em 1997, o Telejornal das 21 horas surge com notícias regionais a par da actualidade nacional e internacional. Um novo noticiário entra para a grelha, o das 14 horas, o programa “Alpendre” também.
1997-2003: Carlos Alberto Fernandes conhecia profundamente a RTP Nacional e chegou à liderança depois de ser subdirector de Armindo Abreu. Foi o director técnico do canal Tele Expo que juntou a RTP e a SIC para a transmissão dos eventos da Expo 98. Esta posição privilegiada deu-lhe a oportunidade de trazer câmaras digitais e equipamentos de montagem para a RTP-M, parte do espólio da Tele Expo. O Telejornal das 21 horas passa a chamar-se Jornal das 21, para se diferenciar da produção do continente, e dedica-se integralmente às notícias regionais. Com as novas condições técnicas surgem os programas de desporto Estádio (diário) e o Fora de Campo (semanal).
2003-2005: Luís Calisto, vindo da imprensa, deu prioridade às notícias cobertas pela estação para obter diferenciação. A produção regional dedica-se a novas áreas como, por exemplo, a pesquisa sobre os Verões do passado, documentários e outros programas de informação gravados.
2005-2010: Leonel de Freitas lança o Bom Dia Madeira, inovando com a abertura da emissão às 7:30. Promove debates da actualidade no Telejornal Madeira após a leitura das notícias. É uma altura de lançamento de novos programas.
2010 - ... : Martim Santos, reduz as horas de emissão, com abertura às 17 horas no Inverno e às 19 horas no Verão com encerramento entre as 23 e as 00:00 horas. Uma TV com 4 a 6 horas de emissão que naturalmente extingue a produção fora desse horário (ex. Bom dia Madeira e noticário das 14 horas). Cria novos programas de pós produção e aumenta a duração dos programas gravados e em directo. Adiciona novos formatos de Verão.
Os directores profissionais de rádio e de televisão que assumiram a chefia da estação foram Armindo Abreu, Carlos Alberto Fernandes e Leonel de Freitas, os restantes directores e alguns quadros de confiança fizeram comissões de serviço com diversas origens: exército, EEM, hotelaria e imprensa escrita. Todos estes cargos vagueram ao longo dos anos por um parecer vinculativo do Presidente do Governo Regional (GR) e consequente decisão final do Conselho de Administração da RTP até ao Governo da República Durão Barroso/ Santana Lopes. Por esta altura passa a decisão simples do Conselho de Administração até aos nossos dias.
2010: Guilherme Costa tinha como vice-presidente José Marquitos, bem relacionado com empresários e políticos da Madeira, que os dá a conhecer ao seu presidente durante as férias, no Verão de 2009, no Porto Santo. Este é o primeiro momento do ascendente de Luís Miguel Sousa sobre a RTP-M através da amizade e proximidade com o então presidente da RTP. É também nesta ocasião que a RTP-M vislumbra um futuro mais indefinido. A RTP nacional vivia, na altura, uma possível privatização, questão que dividia o governo de coligação PSD/CDS em funções na altura. Tutelado pelo ministro Miguel Relvas, Guilherme Costa promoveu contactos com empresários em Angola e na Madeira que mostraram apetite por uma eventual privatização do canal RTP da Madeira. A RTP-M era Pública ou privada? Nada havia mudado, era pública mas, com exposição privada. Sem qualquer decisão tomada pela RTP nacional, a tentacular vertente privada evolui tacitamente a partir dos empresários da Madeira. Os funcionários surpreendidos pressupõem que algo “combinado” ocorre sem valor legal. Martim Santos, jovem ex quadro do Grupo Pestana e co-explorador do Café do Teatro com seu padrinho, assume funções na RTP Madeira, sem experiência em empresas de comunicação ou TV, o que muitos funcionários da casa, bem mais preparados, sentem como um ultraje e uma ingerência. É o momento em que se acentuam os desacordos, uns vendem-se outros não, arranca uma era de calculismos e sobrevivências, ainda para mais com um impávido e apático Conselho de Administração que não parece de confiança. Os funcionários consomem-se num silêncio e a estação definha a cumprir o horário.
(contínua no próximo Sábado)




Diário de Notícias do Funchal
Data: 12-08-2017
Página: 32
Link: RTP Madeira 1 de 2
Clique por favor para ampliar o recorte de imprensa:

Sem comentários:

Enviar um comentário