terça-feira, 26 de maio de 2015

O jogo da política: win-win-fail

ão tem regras, não tem cartas, não usa “bolas”, ou talvez sim, a inspiração do momento define tudo. É uma navegação por cabotagem com alguns cabos tormentosos. Retratar, só com um Van Gogh de pinceladas desconexas.

Lição nº1: os elegíveis devem usar a inocuidade populista, ser bons convivas, por vezes algo mais ... O Q.I. pouco importa, aliás em alguns casos é um “handicap”. Deve orbitar os centros de decisão com um nome de família que ajude, incrementando a proximidade à medida que se vislumbra um vencedor. Também há os vencedores desaparecidos, em cima, nas salas vip.

Joga-se sem pudor e pode ser por equipas. Uma equipa pode ter tantos cavalos quanto desejar, no fim da competição fica a “amizade” que tudo une. Com o “win-win” presente, podemos ver o mesmo jogador a opinar de forma contraditória, associar-se de forma irracional, numa paz alimentada pelo sucesso de quase todos. Também se pode usar o contraproducente, é um género para espertalhões, fazem-se difíceis. Jogam tudo no incómodo para lhes comprarem o silêncio.

Nunca se ofereça, insinue-se. Há um empecilho mental geral nos “croupiers”que o tornam num pedinte necessitado em vez de um veículo de sucesso. Se caiu nesse erro, sente-se e assista, guarde o sucesso. Lembre-se de que os jogadores inexperientes trazem instintos básicos e decisões errantes. O ego enfraquece como tensão arterial elevada.

O poder não é tonto e também vai fazendo o seu jogo. Nunca mostra as cartas, é mestre em bluff. Pergunta por todos mas quer saber de poucos. Cada um coloca as suas palas e acha que vai ser como pensa, a cenoura balança na frente, símbolo da ilusão que move montanhas, até ao momento crucial do voto e da vitória.

Depois avança a incomunicabilidade, o atrito, a ridicularização, a etiqueta do proscrito, as técnicas de afastamento para centrar a política aberta à sociedade civil aos míseros de sempre. Baralhar e dar de novo mas, parece que o baralho tem cartas repetidas. O povo sereno anda com um “déjà vu”. Os indesejáveis desaparecem como as reclamações na TAP, por exaustão.


De tanto repetir o modelo, os partidos tradicionais vão se esgotando perante uma opinião pública que aprendeu a ser tão cínica quanto eles. As sondagens receiam e os partidos cada vez “ardem” mais trunfos para obter resultados sofríveis.

Não é fácil começar a ser poder, parece um armazém depois de um sismo de 8.0 na escala de Coerência Modificada. Por entre prateleiras, cunhas, amizades, silenciamentos, carreiras, pedidos, jet 7, famílias, elites, ufa ufa ufa “setop”… sai um arranjo obtuso que não deve ser do agrado de ninguém, muito menos dos que sofrem as consequências.

Não fica espaço para gente sã, simplesmente sã, capaz e com ideias. Daqueles que o povo sereno gosta. Se existe, aponta-se com o dedo e algum lobo vai papar. Não é que esta gente não saiba estar em jogo, há simplesmente muitos mais que não mudam o chip de tão adictos e dependentes deste feitiço da destreza.

Olhamos para o relógio, é tarde, o jogo absorve o nosso tempo e o nosso espaço. Entretanto outro mundo correu em paralelo. De regresso encontramos mais um mendigo que ali não estava, uma nova montra com papel de jornal, uma moradia com um papel de tribunal, um casal que arrasta demasiadas malas com uns velhinhos a choramingar. Essa emigração, tão do agrado dos jogadores viciados, vai embora, leva os problemas de todos e não castiga com o voto. O jogo é um passatempo estéril perante tamanhos problemas.

Apesar de tanta patada, este jogo não é de futebol mas, todos dizem “a bola é minha”, sem colectivo para jogar. Assim definha Portugal, win-win-fail. Amigos de ontem, desconhecidos de amanhã; necessários anteontem, dispensáveis hoje; inimigos de há muito tempo, unha e carne desde há pouco; íntegros de sempre, idiotas por necessidade. Não admira este jogo ter tantos aficionados.
Se você não percebeu nada, provavelmente está de boa saúde ou então, por decreto, já não percebe português arcaico.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 26-05-2015

Página: 15
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