terça-feira, 1 de setembro de 2015

Adeus paquete Funchal

ssustou-se? Sinal de que ainda respeita os símbolos nacionais não elegíveis para o Panteão Nacional, por relevantes serviços prestados ao país. Estamos no limiar, o colega Lisboa foi desmantelado.

Há 54 anos que invocam o nome da capital da Madeira para identificar o último paquete da época áurea do transporte marítimo de passageiros em Portugal. Este ícone nunca mudou de nome e teve vivências excepcionais. Não sendo proprietária ou armador, a Madeira, por via desta estreita ligação, não se deve colocar alheia ao impasse que imobilizou o paquete após o último cruzeiro à passagem de ano na Madeira.

O paquete, a torre da Sé e a torre da C.M.F, ícones do Funchal. Foto de Luís Fernandes.
A ordem de construção do Funchal data de 1959, pela empresa Insulana de Navegação, aos estaleiros navais de Helsingør Skipsværft que deram forma ao projecto de Rogério de Oliveira. 2 anos depois estava construído o maior navio daqueles estaleiros dinamarqueses. Serviu nos primeiros anos nas ligações entre Lisboa, Açores, Madeira e Canárias, integrado numa frota constituída por mais de duas dezenas de navios, onde se destacavam o Infante Dom Henrique, o Santa Maria, o Vera Cruz e o Príncipe Perfeito.

A idade do paquete Funchal e as exigências do “Safety of Life at Sea”, para que possa navegar em cruzeiros, limitam-no mas, o facto preponderante, em boa consciência, é de que todos gostam, veneram e publicam fotos mas, quando chega à hora de escolher um cruzeiro optam por outro navio, condicionados pelo marketing do maior, do novo, mais atraente ou inovador. Esquecem-se dos clássicos. Foi um grego, George Potamianos, que salvou o paquete uma vez. Quando será a vez dos portugueses sem Passos em falso?

O paquete Funchal e a cidade que lhe deu o nome. Foto de Luís Fernandes.
Se Portugal quer acreditar na sua vocação marítima, realizando em vez de invocar os já enervantes clusters do mar ou economia azul, vai ter de deixar a verborreia. Precisamos de pragmatismo e resultados.

Vivemos tempos difíceis, onde melhor se definem os bons, os regulares e os maus governantes, pressupondo que não há estadistas. A nossa ilha gastou 100 milhões numa marina que não existe, pode-se redimir com um enquadramento legal rentável, mesmo com outras prioridades financeiras, para facilitar uma solução privada ao paquete. O Funchal é amigo de “todos”, um “crownfunding” pode ajudar, encaminhar os descontos no IRS também. Criar soluções que mantenham o Funchal e produzam receita para o(s) investidor(es) são os desafios.

Nem tudo é repto, um grande trunfo reside na profunda renovação efectuada ao navio há relativamente pouco tempo, para além de ter um justo tamanho para ser explorado na Madeira. A sua recuperação custou 20 milhões de euros e está à venda por 18 milhões. Por este caminho, imobilização, desvaloriza-se até um sucateiro lhe deitar a mão. Outros navios, com uma segunda vida, foram recuperados de situações bem piores. Foram necessárias grandes campanhas durante anos para salvá-los. As principais referências vão para o Queen Mary, o Rotterdam V, o Kristina Regina (Bore), em exploração, havendo ainda os casos do Queen Elizabeth 2 e o United States, imobilizados, entre outros de menor dimensão.

Paquete Funchal a 31 de Dezembro de 2014, prestes a fundear. Foto de Luís Fernandes.
Sabendo das intenções em avançar com uma unidade hoteleira para o Cais Norte, a Madeira poderia reconverter os planos e trazer o paquete Funchal à nossa cidade para servir de hotel multifuncional (alojamento, museu vivo, eventos e visitas) numa estrutura fixa dentro de água, demonstrando ao país que sabe preservar o património, a história e a cultura, até porque por aí tem futuro a explorar. Visite estes exemplos: www.msborea.fi, www.ssrotterdam.com.

Brasão do Funchal na proa do paquete. Foto de Luís Fernandes.
A cidade do Funchal, com o seu paquete, poderia juntar sinergias com outras cidades nas mesmas circunstâncias, promovendo um circuito mundial que satisfaça um novo nicho de mercado.

A Madeira já tem notoriedade para clássicos, basta observar a importante colecção de automóveis, com alguns em circulação para serviços de charme. As quintas madeirenses, os museus, as igrejas, o vinho, um Madeira Story Center e uma “Esquina do Mundo” recuperadas, entre outros como os carros de cesto do Monte e porque não os de bois, poderão compor uma viagem no tempo, criando diferenciação ao nosso turismo. O paquete Funchal pode ser mais um componente do bom sabor dos velhos tempos.

Estão avisados, não adormeçam.


Fotos: no DN e no blog, da autoria de Luís Fernandes, ao qual agradeço a pronta colaboração.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-09-2015
Página: 11
Link: Adeus paquete Funchal


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